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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Rio+20 terá aldeia para discutir questões indígenas



Postado em 14/02/2012 às 17h30

Uma aldeia com pelo menos quatro ocas será montada no Rio de Janeiro para discutir questões ligadas aos indígenas durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), marcada na cidade para o final de junho. Segundo o articulador indígena para a conferência, Marcos Terena, o espaço deverá se chamar Kari-oca 2, nome que remete aos moradores da cidade do Rio de Janeiro, os cariocas, e cujo significado original, na língua indígena tupi, é “casa do homem branco”.
Na aldeia haverá duas ocas com redes para abrigar 80 pessoas, uma “oca eletrônica” e uma grande oca com capacidade para 500 pessoas, onde serão feitas as discussões. Terena e um grupo de indígenas estiveram no Rio de Janeiro para definir a área exata onde a aldeia será montada. A ideia é que o espaço ocupe o Autódromo de Jacarepaguá, próximo aos locais onde ocorrerão as conferências oficiais das Nações Unidas.
“É uma iniciativa para abrigar povos indígenas do mundo inteiro aqui no Rio de Janeiro durante a Conferência Rio+20 e para que a gente possa ter um lugar para debater a economia verde e o desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo vai servir para que a gente possa mostrar a força cultural dos povos indígenas do Brasil. O projeto é uma iniciativa indígena brasileira, que é conectada com os índios da África, das Américas, da Ásia”, afirmou Terena.
Segundo Terena, a montagem da “oca eletrônica” será uma das grandes novidades. “Essa oca, que foi uma sugestão dos índios navajos, dos Estados Unidos, é uma inovação, já que mistura uma oca tipicamente brasileira com conteúdo eletrônico. Ali haverá iniciativas voltadas à tecnologia da informação e também terá o objetivo de fazer a transmissão online da conferência aqui do Rio de Janeiro”, disse.
Na aldeia, haverá ainda profissionais indígenas, como enfermeiros e advogados, para atender os participantes da conferência, caso haja necessidade. Além disso, estão programadas cerimônias espirituais tradicionais, durante todos os dias da Rio+20.
Vitor Abdala, da Agência Brasil

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Visita à uma escola Pataxo - BA

Nesse endereço você pode assistir ao vídeo que mostra a visita de alunos da rede regular à uma escola indígena do Povo Pataxo, na Bahia.

http://www.youtube.com/watch?v=f0RX4PhwBxg&feature=related

Rede estadual do Pará e a primeira turma de magistério indígena



Rede estadual forma primeira turma de magistério indígena
Da Redação
Agência Pará de Notícias
Rai Pontes/Ascom Seduc
A formatura da primeira turma do curso normal em nível médio de Magistério Indígena aconteceu na aldeia sede do Alto Rio Guamá
Rai Pontes/Ascom Seduc
Raimundo Nonato Tembé, orador da turma, destacou as conquistas do seu povo e os desafios que ainda precisam ser vencidos
Rai Pontes/Ascom Seduc
Uma das concluintes do curso ao lado da paraninfa, na cerimônia de formatura, que reuniu cerca de 200 pessoas

Uma educação bilíngue, que respeite as características de seu povo e o ajude a ter autonomia. Com esses anseios, a primeira turma do Curso Normal em Nível Médio de Magistério Indígena, ofertado pela Escola Itinerante da Rede Pública Estadual de Ensino, formada por índios Tembé, concluiu na manhã de sexta-feira (10) sua formação. A cerimônia de formatura foi realizada na Aldeia Sede do Alto Rio Guamá, às proximidades do município de Capitão Poço (nordeste do Estado), e reuniu cerca de 200 pessoas, entre lideranças indígenas, autoridades e estudantes.


Os 14 formandos são indígenas residentes nas aldeias São Pedro, Iarape, Frasqueira, Tawari e Ituwaçu. O objetivo do magistério indígena é formar professores para que atuem nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, ministradas em escolas localizadas nas terras indígenas do Alto Rio Guamá, Alto Turiaçu e Turé Mariquita, beneficiando mais de 500 estudantes.


Raimundo Nonato Tembé, 40 anos, já ministra aulas na escolas de sua aldeia e foi o orador da turma. “Eu tenho orgulho de ser Tembé porque o sangue que corre em minhas veias é Tembé, e passa, há séculos por nossas famílias, para que existíssemos até hoje. Lutamos, há mais de 300 anos, para vencer a discriminação e para conquistar nossa autonomia. Esse certificado que estamos recebendo agora é mais um passo, mas ainda temos muitos desafios pela frente”, declarou, acrescentando “que é preciso continuar os estudos para sermos nossos professores, enfermeiros e médicos”.


Ensino Superior - No próximo mês, estudantes indígenas do Alto Rio Guamá farão a prova do primeiro Processo Seletivo para o curso de Licenciatura Intercultural Indígena, ofertado pelo campus da Universidade do Estado do Pará (Uepa) no município de São Miguel do Guamá. Esse será o primeiro curso específico para indígenas ofertado no Estado.


Em todo o território paraense residem 55 diferentes povos indígenas. Atualmente, cerca de 11 mil estudantes índios estudam em escolas públicas municipais e estaduais, onde cursam os ensinos fundamental e médio. De acordo com Aldeíse Gomes, diretora de Educação para Diversidade, Inclusão e Cidadania da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), outras seis turmas com 326 indígenas de 45 povos cursam o Magistério Indígena nos seguintes polos: Altamira, Capitão Poço, Marabá, Oriximiná, São Félix do Xingu e Santarém.


O curso é dividido em quatro séries. Além das disciplinas pedagógicas do magistério tradicional, os professores indígenas também estudam História da Educação Indígena, Antropologia, Linguística Aplicada e Língua Indígena. “Este é um momento histórico para a educação escolar indígena no Pará. Reconhecemos a luta deste povo que foi incessante para que hoje estivéssemos aqui. Estamos diante de um direito conquistado, garantido e respeitado”, afirmou Aldeíse Gomes.


Texto:
Mari Chiba - Seduc
Fone: (91) 3201-5181 / (91) 8135-9009
Email: marichiba84@gmail.com

Secretaria de Estado de Educação
Rod. Augusto Montenegro Km 10, S/N. Icoaraci, Belém-PA. CEP: 66820-000
Fone: (91) 3201-5205 / 5005 / 5180 / 5008
Site: www.seduc.pa.gov.br Email: gabinete@seduc.pa.gov.br


Fonte:

"Aqui no estado, RS a primeira turma de magistério indígena Guarani se formou em 2010 e este ano será realizado o primeiro concurso público específico e bilíngue."

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Mulheres indígenas e a mídia...


Aracy Tupinambá fala sobre mulheres indígenas na mídia brasileira
Aracy Tupinambá fala sobre o contexto das mulheres indígenas na mídia brasileira.

Entrevista com Aracy Tupinambá(Renata Machado S. Rodrigues) do Povo indígena Tupinambá, nasceu em Niterói-RJ, em 25/07/1989. Graduanda em Comunicação Social pela UNESA, previsão de fim de curso em 2012 e cursando Roteiro Cinematográfico no Instituto Brasileiro do Audiovisual Escola de Cinema Darcy Ribeiro.

Cinemaartes: Como a mídia (TV, cinema, novelas, comerciais) trata e retrata a mulher indígena ?

Aracy Tupinambá: Os povos originários começaram a ser retratados e representados nas telas do cinema e da televisão tendo como base a literatura indianista que resgata elementos etnocêntricos cristalizados no imaginário de grande parte da população brasileira. Obras da literatura de José de Alencar e outros. Para entender como a mídia, a televisão e o cinema retratam a mulher indígena, é preciso compreender como retratam o “ser indígena”, não diferente do que muitos ainda aprendem nas escolas. Faço parte da gestão de um Projeto chamado Índio Educa voltado para alunos e professores do ensino médio e fundamental, no auxilio da História das Culturas Indígenas, junto com outros jovens : Marina Terena, Alex Makuxi, Micheli Kaiowa, Sabrina Taurepang e Amaré Krahô Canela. A gente sabe que começa na escola essa visão preconceituosa que muitos ainda possuem sobre o que é ser indígena e reproduzem em seus trabalhos. A imagem romântica do "bom selvagem" e do "mau selvagem".
Publiquei em 2008 um artigo no Observatório de Imprensa, o titulo era: “De objetos do Novo Mundo a objetos da Nação Brasileira”, eles publicaram com o titulo: “A imprensa é parcial e etnocêntrica”. Nele eu comento o fato da maioria dos grandes jornais brasileiros não abordar a questão indígena com imparcialidade e muitas matérias jornalísticas resgatarem o etnocentrismo que ainda existe em muitos livros didáticos. E principalmente sobre o etnocentrismo europeu estar enraizado no ethos da sociedade brasileira, que foi sendo construída durante séculos sobre bases e correntes de pensamento européias.

Uma novela por exemplo que gerou ate bastante polêmica nesse sentido foi A Lua me Disse,com a atriz paraense, Bumba, que fez a personagem chamada “Índia”, nem um nome foi dado pelos roteiristas. Era constantemente ridicularizada, humilhada pelas patroas na novela, chamada de preguiçosa, ela corria atrás dos homens, tinha o sotaque estereotipado, gritava:“índia quer, índia gostar...”, “índia quando quer homem fica nua na taba...”. Era tudo de negativo que poderiam colocar em uma personagem indígena e que seria motivo de deboche nacionalmente e também internacionalmente já que muitas dessas novelas passam em outros países. Cartas de repúdio foram elaboradas por associações indígenas e a Globo foi aconselhada pelo Ministério Público a mudar o perfil da personagem. Muitas famílias com pouco acesso a informação, através da mídia, das novelas e filmes pensam conhecer os povos. Eu acho muito vergonhosa a forma como muitas dessas novelas retratam a mulher indígena, uma imagem deturpada ligada ao atraso, ridículo, exótico, erótico, com muitas coisas pejorativas. E mesmo assim muita gente ainda pensa que não existe preconceito contra indígenas no Brasil, são estereótipos tão presentes na sociedade que acabam sendo aceitos e vistos como algo natural para algumas pessoas. E o que dizer sobre o recente comercial de bebida alcoólica, com “mulheres indígenas”, no caso atrizes vestidas de índias, com roupas inspiradas na de indígenas americanos não brasileiros, que aparecem para apagar a “fumaça” do churrasco de não indígenas? O não respeito às culturas indígenas. O grande desafio sem dúvida é a descolonização desse “saber colonizado”.

Cinemaartes: Quais seriam os caminhos pra uma mídia com mais respeito aos povos indígenas , em especial as mulheres indígenas?
Aracy Tupinambá: Acredito na conscientização como agente fundamental de transformação. É importante que os profissionais da mídia não fiquem presos a visões ultrapassadas.

Cinemaartes: Qual seu conselho para as mulheres indígenas?

Aracy Tupinambá: A vida das mulheres indígenas tem mudado muito, a maioria das culturas são patriarcais. Até pouco tempo era forte o preconceito de que mulher indígena só deve cuidar dos filhos, da roça, artesanato, comida. Muita coisa era apenas direcionada aos homens, principalmente as oportunidades em realizar coisas novas. Mas cada dia que passa esse preconceito vai ficando mais fraco e mulheres vão conquistando voz que antes não tinham em algumas comunidades. Conheço muitas que cursaram ou estão cursando o ensino superior, buscando outras funções que antes apenas era comum aos homens. Existe aquelas que ainda se escondem por medo, dizem apenas que são netas ou filhas de indígenas. A grande maioria quando saem da aldeia para estudar ou trabalhar passa por dificuldades, são discriminadas nas cidades, até são vitimas de violência sexual ou de outros abusos.

Eu venho de uma família de mulheres pajés e guerreiras. Mulheres que sofreram abusos, mulheres que morreram defendendo nosso povo. A avó da minha avó morreu com uma bala no peito defendendo nosso povo. Eu me orgulho das mulheres da minha família, mulheres que não fraquejaram nas dificuldades, nem mesmo sofrendo tortura, mas acreditaram na força de sua cultura e principalmente mulheres de muita fé. Eu diria para minhas parentas de todas as etnias, para não esquecerem quem elas são e não desistirem dos seus sonhos, mesmo que os rios, mares e lagoas fiquem salgados com nossas lagrimas. Não deixem ninguém as desrespeitar ou dizer o que podem fazer. Como mulheres somos o ventre da terra, somos mães da nossa cultura e o equilíbrio, de pés descalços na terra dançando e cantando sempre. Somos a força de um povo, todo seu coração e identidade.


Cinemaartes: Como começou a sua historia com o audiovisual ?

Aracy Tupinambá: Sempre gostei de historias, cresci com minha avó Tupinambá me contando historias sobre sua mãe, sua avó, o sofrimento dos nossos parentes e outras historias. Sempre pensei em como registrar a memória e compartilhar sentimentos, como guardar não apenas comigo, mas principalmente compartilhar com outros. Sempre me senti atraída pela imagem, escrita, fotografias e filmes. Tenho uma verdadeira paixão pela escrita e pela imagem.
Em 2000 fiz parte de uma oficina de um grupo chamado Moleque de Idéias, uma oficina de Criação Digital: Criação de Roteiros, Modelagem em massa, Produção de Cenários, Animação Digital, Sonorização e Dublagem. Fizemos um curta metragem sobre os 500 anos do Brasil. Foi a primeira vez que eu havia tido contato com o audiovisual.
Em 2008 comecei a fazer parte como voluntária na área de etnojornalismo no Projeto Índios Online, um portal de diálogo intercultural que promove a comunicação entre várias comunidades indígenas e que realizava oficinas de várias temáticas em aldeias que faziam parte do projeto. Em 2010 fiz parte de um processo seletivo no Instituto Brasileiro do Audiovisual Escola de Cinema Darcy Ribeiro, do qual passei e comecei a estudar Roteiro Cinematográfico com o objetivo de na conclusão do curso passar os conhecimentos adquiridos para as comunidades. Aprendi muitas coisas, tive a oportunidade de ser aluna do Ruy Guerra, Walter Lima Junior, Flávio Tambellini e outros. Conheci coletivos de cinema, como o Coletivo Anti cinema realizado por jovens da Baixada Fluminense.
Comecei a perceber como o etnocinema é importante enquanto ferramenta que revela mundos até então desconhecidos para outras culturas, transformando-se em um instrumento de resistência para os povos indígenas, que fortalece suas culturas, identidades e comunidades. Retrata formas de um povo ver e sentir o mundo, desmistificando a visão do outro sobre uma cultura diferenciada. Eu sempre costumo dizer para as pessoas que me perguntam sobre como é o cinema indígena, eu digo que a força do maracá das imagens é invocada através do espírito em que a câmera se torna nas mãos de um etnocineasta.


Contatos: Aracy Tupinambá http://fragmentosdoinfinito.blogspot.com/ Em breve vou disponibilizar alguns roteiros, vídeos e etc. Acessem meu blog: http://fragmentosdoinfinito.blogspot.com/
tupinamba.rj@gmail.com
Postado por Cinema e Artes às 21:41


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"Mais de 4 mil índios vivem acampados em beiras de estradas"



Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
01/02/2012 | 08h33 | Brasil

Mais de 700 famílias indígenas, ou cerca de 4 mil pessoas, vivem em acampamentos à beira de estradas nos estados do Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. De acordo com levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), são cerca de 90 acampamentos, onde os índios vivem de forma precária, semelhante aos dos sem-terra, mas em agrupamentos comparativamente menores. O Mato Grosso do Sul é o que reúne o maior número de acampamentos, 31, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 21, segundo o Cimi.
"As maiores dificuldades para os índios acampados é conseguir água potável e acesso à educação. Nas aldeias regularizadas são abertos poços artesianos, o que não acontece nos acampamentos", afirma Silvio Raimundo, coordenador da Funai em Ponta Porã (MS) responsável por 30 mil índios em 12 municípios da região.
Segundo Raimundo, o número de índios acampados é bem maior se forem incluídos os que estão dentro de fazendas, à espera de regularização de terras. Raimundo estima em 5 mil a 6 mil os acampados apenas na região de Ponta Porã. Depois de dois anos fora de qualquer escola, 58 crianças do acampamento Ypo′y, no município sul-matogrossense de Paranhos, voltarão a estudar este ano graças a uma liminar obtida pela Funai, que obriga a prefeitura a providenciar vagas para as crianças indígenas e impede que o dono da Fazenda São Luís, onde o acampamento está instalado, impeça a passagem de ônibus escolar. Neste acampamento, segundo Raimundo, moram 70 famílias.
Agora, a Funai negocia com a prefeitura de Aral Moreira vagas em escolas para 88 crianças do acampamento Tekoha Guaiviry, área de conflito onde os índios foram atacados em novembro passado. O índio Nisio Gomes está desaparecido desde então.
"A situação é muito precária. Essas famílias vivem da cesta básica entregue pelo governo e nem a educação está garantida", afirma o secretario geral da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Ulrich Steiner.
A falta de água potável aumenta o risco do surgimento de doenças. No Rio Grande do Sul, onde os acampamentos estão presentes em pelo menos 11 municípios, há registro de tuberculose. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados
sete casos da doença em índios de duas famílias acampados em Capivari do Sul (RS), diagnosticados no último semestre.
"Todos estão recebendo tratamento por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Capivari. No total, 38 índios guarani fazem parte do acampamento, no litoral gaúcho. Os outros indígenas desse acampamento também estão sob medicação preventiva devido ao contato com os doentes", diz a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Segundo a Sesai, equipes prestam atendimento uma vez por semana nos acampamentos no Mato Grosso do Sul, que seriam apenas 20. Quanto ao fornecimento de água potável nos acampamentos, o órgão afirma que "a legislação não permite fazer qualquer obra ou investimento nestas terras, por não serem legalizadas".
Além da situação irregular, os índios acampados não conseguem estabelecer lavouras, que complementam o sustento. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, as cestas básicas são distribuídas quinzenalmente pela Funai.
"Sem-terra, eles não tem como produzir nada. Entendemos que todas as soluções são paliativas até que se decida a questão principal, que é a ocupação definitiva de terras pelos diversos povos", afirma Raimundo.
Da Agência O Globo

http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20120201083302&assunto=5&onde=Brasil

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Filme Xingu

'Os índios são, sim, muito sofisticados', diz Cao Hamburger

Diretor fala sobre 'Xingu' filme que exibirá, dia 15, em Berlim

Quarta, 30 de Janeiro de 2012, 03h06
Paulo Giandalia/AE
'Os índios são, sim, muito sofisticados', diz Cao Hamburger
'Belo Monte é algo muito retrógrado e reacionário', diz Cao Hamburger

MARILIA NEUSTEIN


Cao Hamburger pouco conhecia sobre a história dos irmãos Villas-Bôas, quando recebeu proposta de Fernando Meirelles para fazer um filme sobre eles. 

Na época (2008) o cineasta ficou um tanto reticente. Porém, depois de pesquisar sobre a vida dos sertanistas e a cultura indígena, topou o desafio. E foi de forma apaixonada e entusiasmante que o diretor contou à coluna sobre os bastidores de Xingu, longa-metragem recentemente selecionado para o Festival de Berlim. "Eu tinha medo de fazer uma coisa que ficasse muito nacionalista ou chapa-branca", explica. "Mas, depois de pesquisar sobre a vida deles e sobre o universo indígena, foi uma experiência transformadora". 

A produção por si só, relata Cao, foi digna de uma aventura. Queimadas, carros atolados e até acidente aéreo (sem vítimas) assolaram a equipe, instalada entre o Tocantins e o Parque Nacional do Xingu. As dificuldades, no entanto, foram anestesiadas pela experiência de intercâmbio da equipe com os índios - que, inclusive, trabalharam nas filmagens, no elenco e na parte técnica: "Eles são muito evoluídos e sofisticados. Não deram muita bola para a evolução tecnológica, como a gente, mas evoluíram de uma outra maneira, que, para nós, é difícil de entender", conta. 

A seguir, os melhores momentos da conversa. 


Fazer um longa-metragem sobre os irmãos Villas-Bôas era um desejo antigo? 


Na verdade, não. Foi um presente. O filho do Orlando Villas-Bôas, Noel, procurou a O2 e o Fernando Meirelles. Ele nos mostrou que essa história estava se perdendo, que ninguém se lembrava mais do pai e dos tios. O Fernando leu o livro, se encantou e perguntou se eu me interessava. 


Você aceitou de bate-pronto? 


A princípio, fiquei um pouco receoso, porque conhecia muito pouco da história deles. E tinha medo de fazer uma coisa que ficasse muito nacionalista ou chapa-branca. Então, fui pesquisar e também me encantei. Cada irmão com sua personalidade, a química entre eles, o lado humanista. Achei a história maravilhosa. Quando fui me aprofundar na pesquisa do universo indígena, foi uma experiência transformadora. 


Como assim, transformadora? 


Difícil falar. Sempre pode soar um pouco místico. Então, não falo muito do que eu sinto, porque é meio difícil de explicar. Mas foi transformador no sentido de que, de certa forma, passei a enxergar o mundo por outra ótica. A cultura indígena é muito sofisticada. Diferentemente do que se fala no senso comum e preconceituoso - que eles são selvagens, que vivem pelados -, os índios são, sim, muito evoluídos e sofisticados. Não deram muita bola para a evolução tecnológica, como a gente. Evoluíram de outra maneira - que, para nós, é difícil de entender. Mas vai caindo a ficha e, quando você percebe, quer absorver o máximo que consegue da cultura deles. 


Alguns índios participaram não só como atores, mas na produção do filme. Como foi essa experiência para vocês? 


Nós fomos muito bem recebidos pelos povos que moram no Xingu. E também por onde passamos, como, por exemplo, o Tocantins. Tivemos muito cuidado com essa aproximação. O projeto começou dois anos antes das filmagens: fomos três vezes ao parque antes de filmar. Muito do roteiro, inclusive, foi feito a partir de conversas com os povos indígenas. Queríamos que o filme tivesse muito o ponto de vista deles também. E isso deu aos índios uma confiança no filme que a gente estava fazendo. Eles se interessam muito. Alguns já tinham feito cursos de vídeo, oficinas. Já haviam tido contato com o mundo audiovisual. Então, aproveitamos para fazer esse intercâmbio. 


Você acredita que falta informação sobre a cultura indígena? 


É um abandono completo. O mais chocante, para mim, foi perceber o preconceito que a sociedade brasileira nutre em relação à cultura indígena e contra os índios. A gente costuma dizer que o Brasil é um país aberto, que vivemos pacificamente, mas há um preconceito contra o índio e é profundamente cruel. Eles são discriminados em vários níveis. Sofrem preconceito racial e são até ameaçados. Muitas vezes, morrem. 


Como você vê essa manifestação preconceituosa? 


Acho que, além de cruel e profundamente injusto, o preconceito é um grande desperdício. A cultura indígena, a meu ver, é um bem que o País tem. É uma maneira diferente de estar no mundo. Temos a prepotência de achar que o ser humano é o dono do planeta e superior, algo que os povos indígenas não têm.


E o que você acha da construção de Belo Monte? 


Acho que vai mexer no fluxo do rio Xingu, e esse rio, como todos que banham aquela região, é muito sensível. Se mexer lá, não sei como isso vai influenciar o habitat dos peixes, que são a principal fonte de alimentação dos povos do Xingu. Acho um retrato do que vem acontecendo com o Brasil desde 1500. Agora seria a hora de repensar o modelo de desenvolvimento que queremos e mudar esse paradigma. É algo muito retrógrado e reacionário. Tendo consequência direta, ou não, no parque, é um símbolo, porque o Xingu é essa luta pela contenção do poder destruidor da civilização. Então, é uma oportunidade que se perde de entrar no século 21 liderando um novo pensamento político, econômico e de desenvolvimento da humanidade e do planeta. Acho uma pena que não haja uma reflexão maior.


Você comentou que há no filme uma cena da Transamazônica...


É uma grande coincidência. No mesmo lugar onde está sendo construído Belo Monte tem uma cena, no filme, do presidente Médici, que foi o general do período mais duro da ditadura, inaugurando (no mesmo município) a placa que marcou o começo da construção da Transamazônica. Projeto que resultou em um completo fiasco. Foram rios de dinheiro jogados fora, muita floresta destruída, muitas doenças levadas aos povos locais, um desastre. Agora, no mesmo lugar, outra obra também faraônica. 


O Noel Villas-Bôas chegou a interferir no filme? 


Não. Tivemos liberdade total. Ele não viu o filme nem leu o roteiro. Ele e dona Marina (mulher de Orlando Villas-Bôas) abriram o arquivo da família. Mas também pesquisamos muito em campo. Falamos com pessoas que trabalharam com eles - médicos, sertanistas, peões. 


O que, na sua opinião, representa o legado dos irmãos Villas-Bôas?


Apesar de eu sempre desconfiar muito dessa coisa de herói, concordo com a Elena Soarez, roteirista do filme, que costuma brincar: "Se você acha que o Brasil não tem heróis, venha assistir Xingu". E nós fizemos questão de mostrá-los, no filme, humanos, com todas as suas contradições, paixões e idiossincrasias. Esses são os verdadeiros heróis, não precisam ser idealizados. 


E a escolha do elenco? 


Para fazer três irmãos é sempre difícil a escolha. Além dos atores serem bons, era preciso que fossem parecidos com os personagens e tivessem essa química de irmãos. Fiquei muito satisfeito, o trio é perfeito.


Qual é agora a sua expectativa para Berlim? 


Ver se os alemães vão se emocionar tanto quanto quem já viu o filme no Brasil.


E como é fazer cinema no Brasil hoje? 


Minha geração perdeu dez anos. Quando estávamos prontos para começar a fazer longas-metragens, nos anos 90, veio o Plano Collor, acabou com a Embrafilme e não pôs nada no lugar. Então, para nós, criticar os mecanismos atuais é muito difícil. Porque são os únicos que temos, e que permitiram nossa produção. Tem um esforço da classe e das políticas públicas para aperfeiçoar o mecanismo. Espero que melhore. 


Você é cinéfilo? 


Gosto muito de cinema, mas também de TV. Fui criado com a televisão. A música do Arnaldo define bem: "A televisão me deixou burro, muito burro demais/agora todas as coisas que eu penso me parecem iguais", (risos). Isso é a minha geração escrita. Eu faço televisão e adoro. E não vejo nenhum problema em criar para ambas as linguagens. Uma coisa é complementar da outra. 


Você assiste a reality shows?


Não. Inclusive não entendo qual é a graça e o destaque que esses programas têm na mídia e na vida das pessoas. Até acho que o reality pode ser um formato interessantes, mas esses que estão aí não me atraem. 


Fale um pouco sobre seus projetos futuros. 


Estou desenvolvendo um longa sobre índios que, ainda hoje, nunca tiveram contato com a civilização. São chamados de isolados. É inacreditável - e me vi impelido a fazer esse filme.    


Fonte:http://m.estadao.com.br/noticias/impresso,os-indios-sao-sim-muito-sofisticados-diz-cao hamburger,828920.htm