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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Educação indígena e educação escolar indígena



Pensando sobre a educação indígena lembrei me de um texto que li já algum tempo, um dos primeiros que tive contato, escrito por um indígena. Quero compartilhar com todos, para que possamos entender a diferença entre educação indígena e educação escolar indígena. 

O Jeito de Ser Guarani

Por Menkaiká   
Data: 18/05/08

Para um guarani, existe o seu "jeito de ser" que é aonde está sua sabedoria de vida (ñanderekó, ñanderekó arandu). Esse jeito de ser é ser o que seu pai, seu avô, seus antepassados foram. Ser sempre "igual" é preservar a tradição. Esse "ser igual" garantiu que muita coisa da tradição e da cultura desse povo permanecesse impressionantemente igual durante 3.000 anos, e isso é comprovado arqueologicamente nas cerâmicas e nos desenhos que fazem hoje nas cestarias.

Outra coisa que é essencial ao jeito de ser do guarani é que ele aprende brincando. Desde pequeno aprende de forma lúdica o que seu pai, seu avô e seus ancestrais faziam e eram... Para eles onde tem água tem festa e ele brinca e, assim, ele aprende e da brincadeira vem o conhecimento e a responsabilidade de continuar sendo o que os outros foram e assim preservam seu jeito de ser.

Os guaranis também faziam grandes caminhadas. Essas caminhadas eram feitas num determinado ponto da vida de um guerreiro. Ele saia a visitar outras tribos, a ampliar seus horizontes, a enfrentar o caminho sozinho, mas esse caminho que ele fazia em terra o levava a abrir-se para outro caminho: o da vida espiritual. Era preciso caminhar para conhecer o espírito... Essas caminhadas também preservavam o modo de ser do guarani e garantiam seu caminho de guerreiro espiritual.
Agora me digam, que vocês acham que acontece se são podados de fazerem o "caminho"????

Longe de ideologias políticas, me parece que confinados em reservas perdem o mais importante que é o trânsito livre no território para suas caminhadas, para a integração, para seu lado transcendental e de perpetuação do que lhe tem mais valor que é o seu modo de ser que me parece estar completamente podado...
Abraços

Depoimento retirado de: http://yvykuraxo.org.br/CMS/index.php?option=com_content&task=view&id=45&Itemid=28

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SÓ UMA LIMINAR FÁCIL DE DERRUBAR AINDA MANTÉM CANDEIAS DO JAMARY COMO CIDADE

Colunas - 12/01/12 - 10h07


Em janeiro de 2011, numa reunião feita na Secretaria do Meio Ambiente (Sedam), do Estado, 27 etnias indígenas da região estiveram representadas. Todos reivindicavam mais atenção, mais saúde, educação, energia, comunicações e estradas. Nem um pedido se ouviu em relação a ampliação de suas terras. Para surpresa geral, poucas semanas depois, orientados pela Funai e com apoio do Ministério Público Federal, os índios passaram a exigir a retomada de grande parte do território de Candeias do Jamary e um pedaço de Porto Velho. Os índios desta área já são donos de mais de 97 mil hectares de terras. Alegam que no local não há mais caça e que precisam de mais outros 100 mil hectares, passando para quase 200 mil. E são pouco mais de três centenas de indígenas. Ocorre que, se tal ampliação ocorrer, conforme a Funai está exigindo, um drama enorme atingirá fortemente a economia de Candeias do Jamari e de Porto Velho. Terão que sair de suas áreas e suas casas algo em torno de 400 produtores rurais, que trabalham com a agricultura e pecuária, com um rebanho de aproximadamente 200 mil cabeças.
 
É essa aberração que a Funai e várias autoridades que apoiam essa medida, querem empurrar goela abaixo da população trabalhadora de Candeias e Porto Velho. Onde, no caso da tomada de terras para os poucos índios, centenas de famílias ficarão sem nada e a Bacia Leiteira da região, uma das mais produtivas do norte do país, será extinta. E a transformação de Candeias numa aldeia indígena só não aconteceu ainda por muito pouco. Foi uma liminar de primeira instância, que pode ser derrubada a qualquer momento, que impediu a catarse.
 
Nem governo do Estado, nem a Prefeitura da Capital, nem deputados estaduais, federais ou senadores se envolveram a fundo para impedir essa aberração. Ouve-se uma voz aqui e ali, mas o procedimento legal continua. Candeias recorreu à Justiça e, ao menos por enquanto, está salva. Mas duas cidades de Rondônia estão prestes a perder parte dos seus territórios, produtivos e ricos. Alguém aí para nos socorrer?
 
 
Escrito por Sérgio Pires

SÉRGIO PIRES é jornalista. Iniciou sua carreira no RS no início dos anos 70 e está em Rondônia há 15 anos. Em 2012, completa 40 anos de profissão, sempre atuando na área do jornalismo. Há oito anos, assina a coluna PRIMEIRA MÃO no jornal FOLHA DE RONDÔNIA. Entre suas atividades, destacam-se os dois anos em que foi diretor de comunicação do Governo do Estado. Sérgio Pires também apresenta um programa de Telkeevisão, na TV Candelária/Record há 12 anos. O programa CANDELÁRIA DEBATE vai ao ar aos sábados, via satélite para todo o Estado. Sua coluna PRIMEIRA MÃO é reproduzida em quase três dezenas de sites de notícias do Estado. Contatos: celular: 81 24 24 24 email: ibanezpvh@yahoo.com.br
 
 
 
 
"Precisamos socorrer pessoas ignorantes que desconhecem sujeitos e histórias!"
 
"Ambos seja os indígenas ou os pequenos agricultores são manipulados por sujeitos cananciosos, que visam o densenvolvimento financeiro."

Ser índio

Inserido por: Administrador em 13/01/2012.
Fonte da notícia: Elaine Tavares, jornalista

Faz algum tempo, estive com um amauta, que na língua kichwa quer dizer sábio. Seu nome é Luis Fernando Sarango Macas. Ele é reitor da Universidade Intercultural de Amawtay Wasi, no Equador, uma escola que atua em outra lógica, a dos povos originários, a gente indígena, autóctone. Falávamos sobre essa questão de ser ou não ser indígena, já que na América Latina somos essa mistura de etnias. E Sarango pôs fim ao tema com a seguinte máxima: “hoje, aqui, ser índio é uma escolha”. E assim é.

Basta que a gente volte no tempo e em algum lugar da nossa árvore ali está, o índio. Indelével.  Tiro por mim. Tenho descendência italiana, portuguesa, espanhola e indígena. Poderia ser a “raça cósmica”, de Vasconcelos, ou seja, uma coisa nova, a mistura, o mestiço. Poderia ser portuguesa, ou espanhola, ou italiana. E poderia ser índia. Mas, toda nossa cultura nos carrega para uma identidade dúbia. Ao mesmo tempo em que se tenta criar a idéia de uma original “brasilidade”, a mente dos brasileiros é formatada, desde pequena – via família, escola, igreja - para ser “europeia”. Talvez nessa contradição resida a “esquizofrenia racial” que se explicita não só aqui, mas em todo o continente.

Uma recente pesquisa feita com crianças no México (http://youtu.be/XAuYtpI3Cq8) mostra o quanto meninos e meninas indígenas, brancas e negras trazem marcado em ferro e fogo a ideia de que o branco é o belo, e tudo o que não se identifica com isso é feio, sujo, ruim. Causa profunda comoção ver aqueles rostinhos marcadamente indígenas apontarem para o boneco negro e dizer, timidamente: é feio, é mau, não me passa confiança. Daí que ser índio ou negro passa a ser o limbo.

Uma passada pelos livros de história e pela imprensa brasileira e ali estão os estereótipos muito claros e bem demarcados. Desde a invasão européia o índio é o selvagem, o preguiçoso, o que atrapalha a civilização, o inútil. Por isso foi completamente dizimado em grandes áreas do país. Mesmo as almas mais altruístas, como Rondon, acreditavam que era preciso integrar o índio à civilização, como se ele não fosse capaz de viver segundo a sua maneira e, desde o início do século XX, iniciou-se essa “humanitária” integração. Na prática, integrar-se seria esquecer sua cultura, esquecer seus traços físicos, sua língua, seus deuses. Integrar-se seria sumir no universo branco, cristão, eurocêntrico. Integrar-se seria deixar de ser quem é em nome de uma “brasilidade” falsa. Os que não aceitaram esse perder-se no mundo branco foram confinados em reservas, que vez ou outra lhes são tiradas ou diminuídas em nome do lucro e dos desejos do mundo invasor.

E, com o passar do tempo a prática também mostrou que, mesmo com a integração, há coisas que não se pode mudar. A cor da pele, o rasgo do olho, o cabelo liso, a atávica sede de horizontes. Um índio não pode se “integrar”, misturando-se a malta branca, porque não o é. Um índio, assim como o negro, tem, como diz Milton Nascimento, a marca da cor e da cultura. E uma sociedade, na qual as crianças aprendem desde a família que o bom é ser branco e cristão não tem como gerar outros seres que não esses que vemos por aí, cheios de ódio racial, discriminação e preconceito. Daí que ser índio nesse país segue sendo algo ruim, sujo, feio, anacrônico.

Então, se a sociedade é formada assim, para ver o índio como um ser menor, como esperar que as pessoas entendam a necessidade da demarcação das terras indígenas? Como querer que as maiorias entendam que as comunidades indígenas precisam de espaço para vivenciar sua cultura, que é rica, que é bela, que é singular? Como vão entender que esse povo que vive nos caminhos, nos barracos, na luta cotidiana por território tem os mesmos direitos que os brancos? A identidade dos indígenas como um ser de “segunda categoria” segue sendo difundida, sem parar. E o máximo a que se chega é a uma musculação da consciência, com o sentimento de pena ou a doação de um saco de arroz, o que reforça ainda mais a ideia original.

No que diz respeito a mim faz tempo que decidi assumir a parte indígena que vive em mim. Minha trisavó era índia, charrua. Nascida e criada na Banda Oriental, filha de um povo valente, arranchado em toldos nas sesmarias do sul. Conhecedora das ervas, exímia na boleadeira, amazona de primeira. O povo charrua foi o que melhor se adaptou ao cavalo trazido pelos espanhóis, chegando a quase se tornar um só ser, charrua/cavalo, centauro da guerra de independência junto com o grande José Artigas. Minha trisavó talvez tenha sido uma daquelas charruas guerreiras, das poucas que sobraram do massacre perpetrado pelas tropas de Fructuoso Rivera, então presidente do recém criado Uruguay, ao povo charrua. Fugida pelo campo afora foi bater em Itaquy, hoje Rio Grande do Sul, e lá foi tomada por um português que a tornou sua mulher. Desse tronco vim...

Essa é uma decisão pessoal, mas que tem importância para o tema em questão. Porque a compreensão do ser indígena precisa passar, em cada família, em cada pessoa, por um longo processo de conhecimento ou re-conhecimento de quem somos e de onde viemos, nós todos, como povo. É necessário compreender as raízes deste imenso espaço geográfico que hoje ocupamos com a cultura ocidental/cristã. Não dá para fingir que estas eram pradarias e montanhas vazias quando aqui chegaram os portugueses e espanhóis. Havia povos e culturas. E isso segue vivo, a despeito de tudo. Vive nos nomes das coisas, dos lugares, na lembrança atávica, nos costumes, nos hábitos. É coisa viva!

Então, não dá para aceitar que não se reconheçam os índios como seres capazes de tomar suas próprias decisões – seguem sendo tutelados no Brasil. Não dá para aceitar que não sejam levados em conta nos seus desejos e vontades, como a não construção de Belo Monte e demais represas que impactam nas suas terras. Não dá para achar natural que uma mulher branca tenha indiazinhas em sua casa trabalhando como escravas. Não dá para aceitar que se queimem índios nas paradas de ônibus em Brasília, ou nos fundões do país. Não dá para reproduzir idéias estúpidas como a de que são preguiçosos, ladrões, sujos. Desse tipo há, é certo. Mas tanto quanto há entre os brancos, os negros, os amarelos e os azuis. Não é a etnia que define o caráter.

Assim como para com os negros, trazidos à força, como escravos, há uma grande dívida a ser resgatada com os povos indígenas desta terra. E isso tem de começar já, desde as famílias, as escolas e até as igrejas, que tanto forjam a mente das pessoas. É preciso contar as histórias, os mitos, ensinar das culturas, das canções, do modo de organizar a vida. É preciso fazer entender que cada povo tem a sua “linha da vida” como essa que se vê hoje no facebook. E que ela começa bem lá atrás. Há que desfazer os preconceitos e isso só se consegue com conhecimento. Há que se assumir essa herança Jê, Tupi, Guarani. É o que somos! E não dá para fugir.

É certo que esse é um longo caminho, mas a larga jornada se inicia com o primeiro passo. Ruben Alves tem um texto no qual fala do humano, comparando-o a uma hospedaria. E que vez ou outra assoma na janela um desses hóspedes que moram em nós: o alegre, o triste, o raivoso, o doente, o malvado, o generoso, enfim. Pois uso a mesma metáfora para o que somos, no Brasil, como povo. Também somos uma hospedaria, na qual, a cada tanto, assoma na janela o negro, o índio, o branco, o amarelo, o azul. Eles existem todos dentro de nós, porque somos um, como raça. E temos de conhecê-los, aceitá-los e amá-los. Cada um pode escolher qual o que ficará à janela mais tempo. Mas, fatalmente, os demais assomarão. E devem fazê-lo, principalmente quando forem discriminados ou oprimidos. Eu, por exemplo, sou charrua, mas posso ser negra quando meus irmãos forem atacados, e posso ser branca se precisar.

O que, talvez, devesse nos unir, sempre, seja nossa consciência de classe. Quem somos no cenário da vida: os que oprimem ou os que farejam a liberdade? E isso é coisa que tem de ser ensinada, todos os dias, em todos os lugares.  O racismo é uma construção das forças que sempre estiveram no poder. Diminuir para dominar. O grande segredo da luta de classes é não aceitar essa premissa. Ninguém é menor que ninguém por conta da cor ou do rasgo dos olhos. Ninguém é menor que ninguém por conta da conta bancária. Como diz o poeta: menores que nosso sonho, não podemos ser. Então, a luta contra o racismo é sempre a luta contra esse poder que aí está.

Os índios não são contra o a construção de uma vida melhor para todos, eles apenas querem que a deles também seja respeitada, querem suas terras, seus direitos, querem viver em paz na sua forma de ser, autônoma, criadora, original. Entender isso é o tal do primeiro passo da larga jornada que haveremos de empreender rumo à outra forma de organizar a existência que não seja predadora, escravizante ou de opressão do homem pelo homem. Ser índio é bonito e é bom. Essa é uma verdade abissal!


De Las Casas e os direitos humanos na América Latina


Recorrente lembrança de Foz do Iguaçu revela-me natureza pródiga, bela, verde, fresca, úmida, ubérrima. No emaranhado de topônimos indígenas, de artesanato caboclo, ainda os sobreviventes indígenas, sempre caminhando, andando, correndo, transitando em torno dessas três fronteiras: Brasil, Argentina, Paraguai.
Pequeno esforço permite que distingamos as origens de cada grupo, como que seus peculiares modos e cores denunciassem origens, qual a expressão de uma segunda nacionalidade. Absurdamente, teríamos o indígena brasileiro, o indígena argentino, o indígena paraguaio. A antropologia clássica não se acomoda aos conteúdos geométricos dos mapas contemporâneos; é o que se pode também apreender dos relatos de viagem de Claude Lévi-Strauss, nos Tristes Trópicos.
A observação de algumas regiões do país sugerem rostos espremidos pela turba que chamamos de civilização e que provocam perplexidades e perguntas. O que houve? Qualquer esforço de resposta carece referências no frei Bartolomeu de Las Casas, que viveu na América no século XVI, bravo e corajoso denunciador do genocídio, procurador e protetor universal de todos os povos indígenas, chocado e horrorizado com a macabra conquista, que tanto combateu.
Bartolomeu de Las Casas nunca esteve no Iguaçu ou no Paraná, porém evidenciou e criticou uma maldade continental, deplorando, lamentando, lastimando os que avançaram cometendo grandes e notáveis crueldades, porque mataram, incendiaram, queimaram, torraram índios, que lançaram aos cães...
Bartolomeu de Las Casas nasceu em Sevilla, Espanha, acredita-se que em 1474. Aos 28 chegou à República Dominicana, e lá morou por quatro anos. Retornou à Europa, foi ordenado sacerdote. Em 1511 voltou para a América, três anos depois estava em Cuba e lá, horrorizado, decidiu-se pela defesa dos índios, que via enforcados, por toda parte.
Um desespero sem precedentes, qual a mulher desvairada de fome que matara o filho para comê-lo. Campos que se tornavam açougue de carne humana. Cortavam-se lábios, mãos, olhos, como se dessem beliscões. Cães agarravam crianças que morriam enquanto recebiam o batismo...
Na condição de defensor dos nativos, Las Casas apresentou memoriais em Madri, em 1516. Tentou programar um projeto de colonização que prescindisse da escravidão dos índios. Em 1527 começou a escrever sua História Geral das Índias. Em 1531, no México, discursou em favor dos gentios.
Em 1534 esteve na Nicarágua, depois na Guatemala. Em 1523 foi bispo em Chiapas, no México. Lá brigou com o vice-rei, Antonio de Mendonza, que era favorável à escravidão dos índios. Foi em seguida que retornou à Espanha, despedindo-se da América. Polemizou em Valladolid, discutindo com Juan Gines de Sepulveda, em torno da alma dos índios. Em 1566 o incansável lutador morreu em Madri.
Eu tenho a impressão de que cada sobrevivente do massacre traga na expressão facial o vinco de quem teve o paraíso destruído, a trajetória embargada, paralisada. Bartolomeu de Las Casas é permanente convite para a reflexão: ao homem a incumbência de lutar por um mundo melhor, no permanente combate pelo respeito à dignidade de nós todos. Nesse sentido, Bartolomeu foi um precursor da luta pelos direitos humanos na América Latina, enfrentando a tudo e a todos, imolando sua existência por aqueles cuja voz não se ouvia.

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy é consultor-geral da União, doutor e mestre em Filosofia do Direito e do Estado pela PUC-SP.
Revista Consultor Jurídico, 15 de janeiro de 2012


Fonte:

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Rio: indígenas reclamam terras em frente ao estádio Maracanã


A poucos metros do estádio Maracanã, de onde sairá o vencedor da Copa do Mundo de 2014, dezenas de indígenas de todo o Brasil ocupam um edifício em ruínas, que as autoridades do Rio de Janeiro querem transformar em centro comercial, e lutam contra uma eventual expulsão.
Índios guajajaras, pataxós, tukanos, fulni-o e apurinãs, entre outras etnias, vivem desde 2006 em casas de barro construídas em torno do prédio que abrigou o primeiro Museu do Índio, a 100 m do estádio que está em reformas para receber a final do mundial de futebol.
As autoridades do Rio de Janeiro querem transformar este espaço simbólico e estratégico em um centro comercial ou em um anexo da secretaria de Esportes. Já os índios reivindicam o lugar para que se converta na primeira Universidade Indígena, um centro de educação para o ensino da história, cultura e conhecimentos ancestrais.
Na ocupação, batizada de "Aldeia Maracanã", cultivam verduras e frutas em uma pequena horta e cozinham em um forno a lenha coletivo. O lugar, além de centro cultural, serve de abrigo temporário ou permanente para índios de todo o País que chegam ao Rio de Janeiro para trabalhar, estudar e participar de eventos.
"Sempre fomos excluídos e quando se lembram de nós é sempre no passado, quando se fala da chegada dos portugueses ou da colonização, mas, e hoje? Nós estamos aqui, estamos vivos e vamos resistir", disse emocionado o cacique da ocupação, Carlos, da tribo tukano da Amazônia.
"Nosso medo é que nosso povo fique fora deste grande evento", disse Dava, da etnia puri (centro do Brasil), referindo-se ao mundial de futebol. "Não queremos ser expulsos, mas sabemos que isso pode acontecer", acrescentou.
Na "Aldeia Maracanã" são realizados eventos como contação de histórias, pinturas corporais, danças, produção de comidas típicas, além de serem ministradas aulas de tupi-guarani e outras atividades de resgate das culturas indígenas.
Os índios criaram também um site para divulgar seus projetos e a partir de 2012 esperam exibir na internet a "Televisão Aldeia Maracanã". "Queremos mostrar aos brasileiros que os índios não são uma coisa só, que existe uma enorme diversidade cultural e étnica que precisa ser valorizada e preservada", disse Afonso, da tribo apurinã. No Brasil vivem cerca de 800 mil indígenas (0,4% da população), segundo dados do governo.
Em 2010, Afonso foi informado pelo governo da existência de um projeto para derrubar o prédio e construir no lugar lojas de artigos esportivos e que, no máximo, algumas salas seriam cedidas aos índios para venderem artesanato. Outro rumor que chegou aos indígenas é que o prédio seria comprado pela Secretaria de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro.
A ligação dos índios com este terreno remonta a 1865, quando o primeiro proprietário, o Duque de Saxe, doou o espaço à União para a construção de um Centro de Investigação Cultural Indígena.
O edifício abrigou o antigo Museu do Índio em 1953, mas a partir de 1977, com a transferência do museu para o bairro de Botafogo, a construção foi abandonada e ficou sob responsabilidade do Ministério da Agricultura.
À medida que as obras do Maracanã avançam - tudo deve ficar pronto até o final de 2012 -, cresce a preocupação dos indígenas, já que nenhum funcionário do governo os procurou ou quis se manifestar sobre os projetos para o terreno ocupado.
A prefeitura do Rio de Janeiro não respondeu às preguntas sobre o assunto. O governo do Estado do Rio se limitou a informar que está negociando com o ministério da Agricultura a compra do terreno.
Mais de 2 mil pessoas já foram desalojas no Brasil devido às obras ligadas à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos que vão acontecer no Rio em 2016, segundo movimentos sociais, acadêmicos e organizações políticas. Os índios esperam não se somarem a esta estatística.
"Viemos aqui para resistir. Viemos para a guerra. É verbal, física, moral. Estamos aqui lutando e nossa luta é justa e respeitosa. Então o guerreiro não precisa ter medo", afirmou Arassari, da etnia pataxó, enquanto pintava seu rosto, vestia sua túnica de palha, um grande colar de sementes vermelhas e um cocar com penas azuis e amarelas.

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5535668-EI8139,00-Rio+indigenas+reclamam+terras+em+frente+ao+estadio+Maracana.html

Mÿky: entre florestas, gado e queimadas

http://www.vermelho.org.br/mg/noticia.php?id_secao=10&id_noticia=172234